Ricos, Pobres e Miseráveis.
O ciclo do crime.
Minha atividade de polícia permite-me
analisar a sociedade de um ângulo único, convivo com a realidade dos ricos, dos
pobres e dos miseráveis. As viaturas circulam em todas as áreas e atendem a
todos.
Esta relação estreita possibilita
participar das relações diárias destas classes, além de me incluir em uma – os
pobres. Assim participo, direta e indiretamente de seus problemas.
Com relação aos ricos é bom
salientar que se atendem poucos chamados, casos raríssimos de roubos ou
latrocínios, prisões nesta classe são raras, violência doméstica, apesar de
existir, não chegam à polícia. Em geral são eles as vítimas.
Relativamente aos pobres atendemos
chamados envolvendo: violência doméstica, briga entre vizinhos, furtos, roubos,
receptação, jogo de azar (são os apostadores), embriaguez, ameaças.
Nesta classe prendem-se muitas
pessoas, em geral, pelos mesmos crimes: roubo, furto, pela falta de pagamento
de pensão alimentícia, pela agressão contra familiares, tráfico de drogas e
muitos foragidos.
Nos casos de furto e roubo de
veículos em que o agente agressor é de classe pobre, o que ele objetiva é
aparentar uma vida abastada, compra carro novo, frequenta casas noturnas caras,
ostenta joias e muitas mulheres, mas não deixa de ser pobre, vez ou outra é
preso, mas em pouco tempo está nas ruas de volta, e traz consigo uma enorme
dívida com seus advogados. Para salientar, pobre rouba pobre, raramente rouba rico.
No último grupo encontro os
miseráveis, posso afirmar que são, sem dúvidas, os mais prejudicados dos três. Meu
olhar se volta com maior cuidado nestes casos: em geral a policia nunca é
chamadas para atender ocorrência nestes locais, moram em condições subumanas
sem saneamento adequado, com casas mal construídas e com muitos filhos, recebem
salários muito baixos e vivem à margem de tudo.
Nesta classe prendem-se muitos, em
geral por furtos de utensílios domésticos, bicicletas e grades de ferro, botijão
de gás, furtam fios de cobres e encontrados em redes de telefonia e elétrica,
em seguida os derrete e vende a centavos por quilo.
Onde moram os miseráveis,
observamos muitos becos, ruelas, córregos, esgotos a céu aberto, cachorros
pelas ruas e muitas crianças.
Pelas características o local é preferido por procurados da justiça, nestes becos são guardadas armas, drogas e veículos que os pobres roubam e furtam.
Pelas características o local é preferido por procurados da justiça, nestes becos são guardadas armas, drogas e veículos que os pobres roubam e furtam.
Com relação aos tóxicos, podemos
afirmar que o crack está intimamente ligado à miserabilidade, os pontos de
tráfico em geral são fétidos, sujos, as pessoas que usam crack são, em geral, sujas
e analfabetas.
A grande parte dos crimes contra o
patrimônio praticados pelos miseráveis é para a aquisição de alimento ou de
tóxicos, o primeiro para sustentar a família e o último para sustentar o vício.
Quando são presos, ficam muito
tempo nos presídios, sem advogados, aguardando julgamento, quando são soltos,
em geral, retomam a rotina diária, qual seja, luta pela sobrevivência,
encontramos muitos relatos de que a vida no presídio era melhor que nas ruas,
devido a alimentação diária.
Diante deste antagonismo social,
resta destacar algumas, e não todas, as causas e as consequências das
distinções acima expostas.
A primeira: ricos não ficam
presos. Muitos cometerem crimes, tanto quando os pobres e miseráveis, são também
os responsáveis pela geração da pobreza e miséria e consequente violência. Alguns
sonegam impostos, desviam dinheiro do governo para seus bolsos com a corrupção,
legislam em seu próprio interesse, ou simplesmente não são solidários, talvez
esta última seja a pior característica.
A Segunda: os pobres, não contente
com a relação desproporcional entre patrão e empregados – exploração – preferem
cometer crimes achando que assim darão uma vida melhor para seus familiares e
para si própria a fim de adquiriram o mesmo status dos ricos, gerando violência
e crimes, dos mais perversos. São presos, e fazem de tudo para retornar para as
ruas, para tanto, gastam muito com advogados e necessitam voltar ao crime para dívidas
contraídas no presídio.
A terceira: os miseráveis lutam
pela sobrevivência, trabalham em condições degradantes, ganhando baixos
salários, seguem regras próprias, cometem crimes a fim de subsistir e são
presos, mas não sentem muita diferença entre a prisão e as ruas, e voltam a
cometer os mesmo crimes.
As demais reflexões são com vocês, ricos, pobres ou miseráveis.