Dia destes estava em uma parada esperando o ônibus, o local era bem movimentado, ao fundo havia um bar, destes do tipo boteco. Poucas mesas para clientes, um bilhar e aspecto sujo. Em seguida observei um homem que aparentava quarenta anos que entrou rapidamente no bar.
Ele pediu um pequeno copo de cachaça, imagino que no copo cabia menos de 100 ml do líquido. Percebi, também, que ele bebeu apressado o chamado “martelinho de pinga” depois fumou um cigarro. A cena me chamou a atenção, pois eram apenas 9h, o dia a pouco havia começado.
Depois de ingerir o líquido, que parecia ser bem ardido visto às reações faciais do homem, ele dirigiu-se ao caixa efetuando o pagamento, porém antes disso, comprou uma bala de menta.
Como um verdadeiro curioso continuei observando, vi que em sua mão havia uma chave de veículo. Quando saiu do estabelecimento acompanhei-o de forma discreta. Ele, então, dirigiu-se até um veículo estacionado na rua lateral, apesar de poder estacionar mais próximo do local, preferiu deixar sua condução a cerca de 100 metros em uma rua lateral, certamente para que ninguém o visse bebendo e depois utilizando o veículo automotor.
Agora, sobre a cena algumas reflexões se fazem necessários. Nós que vivemos da atividade de polícia, inevitavelmente convivemos com as fraquezas humanas, labutamos em grande parcela de nosso trabalho para que as pessoas não se autodestruam.
Destarte, as reflexões a partir deste ponto fazem sentido na medida em que observo, nas centenas de ocorrências policiais diárias, a luta dos policiais militares, verdadeiramente implicados com sua atividade de polícia, para evitar que as pessoas se envolvam em ciladas que mais à frente lhes custaram o sustento, a liberdade ou a vida.
E são inúmeros os casos concretos do que referi acima, por exemplo: dependentes químicos das mais diversas drogas que sofrem a intervenção policial por força do artigo 28 da lei 11.343/06; motoristas embriagados, quando abordados pelo policial militar é imputado o artigo 306 da lei 9.507/07. Homens violentos que agridem seus filhos e esposas - e nestes casos muitas destas mulheres são viúvas ou separadas e colocam dentro de suas casas pessoas que conheceram há pouco tempo, assim observo duas formas de autodestruição, primeiro do homem violento contra os fracos e em segundo momento a mulher inconseqüente que coloca estranho para conviver em sua casa. Para o primeiro caso a lei 11.340/06 estabelece critérios bem objetivos para a intervenção da Polícia Militar para o com o companheiro agressor.
Outra área de ação bem comum na atualidade, e que a Brigada Militar atua muito, está no conhecido jogo de azar, que encontra base legal para a intervenção no artigo 50 da lei das contravenções penais, e mais, no artigo 482 da Consolidação das Leis Trabalhista está positivado que o jogo de azar é motivo para demissão por justa causa. Nesta contravenção, idosos deixam nas máquinas o dinheiro que era para os remédios, pais de família perdem o dinheiro do pão e leite dos filhos.
Aponto viciados em jogos de azar, pedófilos, viciados em prostituição, pessoas violentas, doentes pelo dinheiro, viciados em alta velocidade e outros tantos para os quais a lei permite intervenção do Estado, também observo que todos nós, independente de cor, religião, sexo, classe social temos nossas fraquezas, e muitas não estão afetas ao crime, mas interferem muito em nosso cotidiano, são elas: a preguiça, o mau humor, o desídia, a intromissão na vida alheia, a fofoca, a avareza,falta de perseverança, dentre outros.
Em todos os casos apresentados acima o prejudicado é em um primeiro momento a pessoa que manifesta a referida fraqueza. Em segundo momento, muitas outras como parentes, amigos e estranhos, estes últimos nos casos dos acidentes de veículos cujos condutores não conseguem manter uma velocidade adequada, ou em casos do alcoolismo relacionado à violência doméstica.
Neste delinear de ideias, volto ao caso do homem e seu martelinho de cachaça, posso afirmar a partir das experiências diárias que ao comprar a bala de menta para disfarçar o hálito etílico e ao deixar o carro mais longe, ele estava, na verdade, enganando-se e pensava estar burlando o sistema ou sua família em nome de sua fraqueza – o vicio.
E para refletir sobre o trabalho da Brigada Militar, tanto em ações preventivas como repressivas nas quais devem sempre imperar atos de segurança pública visando a proteção e a promoção da cidadania, é importante entender o exposto acima e compreender a ação destes policiais nos casos em que a lei positiva certas punições - mesmo que só administrativas - como uma forma de auxilio, proteção e ajuda, resumindo em uma conduta que – mesmo que para alguns pareça paradoxal - visem dar força ao fraco.
E, se pensado assim, a sociedade passa a ver que o policial – aquele que atua na lógica de um Estado Democrático de Direito - é um amigo, que tenta limitar e controlar as fraquezas dos serem humanos, sempre na busca de uma convivência não violenta, mas sim pacifica e harmoniosa.
Isto transforma este agente de segurança pública, de mera figura policialesca em um verdadeiro educador, um exemplo de aplicação e promoção da cidadania e dos direitos humanos. Enfim um referencial de polícia inteligente e base da execução da polícia comunitária.
Um comentário:
Realmente pensamos que estamos burlando o sistema, e no momento não temos a conciência das consequências. Várias vezes eu acessei a internet do celular enquento dirigia. Um dia desses vi uma reportagem de acidentes de trânsito com morte, o motivo imprudência. Na próxima vez
que pensei em acessar a internet do carro, bateu a conciência e refleti que poderia estar prejudicando uma pessoa totalmente inocente. Desde então
não consigo mais acessar a internet enquando estou dirigindo. Como estamos diariamente em desenvolvimento precisamos de exemplos, de pessoas como você que nos faz refletir e nos passa sua experiência do dia a dia. Parabéns pelo Blog. Sou seu fã.
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